Publicado em 03/07/2011 | PAOLA CARRIEL
O Paraná cresceu de forma não uniforme durante o século passado e o desenvolvimento ficou centrado em poucas regiões, deixando boa parte do território sem investimento, o que gerou pobreza e miséria. Os bons rendimentos se concentram – com exceção de algumas cidades – em regiões metropolitanas e polos industriais, áreas que receberam investimentos governamentais em infraestrutura e atraíram empresas, indústrias e comércio.
Exemplo
Cidades encontraram solução
A solução para o dilema paranaense pode vir de exemplos como as cidades de Entre Rios do Oeste e Quatro Pontes, ambas na Região Oeste do estado. Os dois municípios têm uma população inferior a 4 mil habitantes, mas ostentam renda superior à de 300 cidades paranaenses. Entre Rios é a quarta colocada, com R$ 1 mil, e Quatro Pontes está em sétimo no ranking, com R$ 909. A história em comum dos dois municípios é que gestores e comunidades conseguiram gerar um ciclo de crescimento econômico duradouro e inclusivo, em que a renda se reverteu em desenvolvimento humano.
Além da boa renda, os dois municípios também figuram nos primeiros lugares de indicadores sociais. Quatro Pontes, por exemplo, tem o segundo maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, ficando atrás apenas da capital, e o menor índice de analfabetismo, que atinge apenas 1,7% dos moradores.
As duas cidades têm características semelhantes, como pequenas propriedades e agricultura familiar. Ambas foram povoadas durante a década de 1950 por colonos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que chegaram em busca de oportunidades de extração madeireira. Mas a vocação para a vida no campo fez com que a população começasse a trabalhar em variadas atividades agrícolas e pecuárias. O solo e o clima da região ajudaram no sucesso da produção. Com o passar dos anos, chegaram indústrias de pequeno e médio porte, beneficiando a produção e agregando mais valor.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Quatro Pontes, Luiz Antonio Hawerroth, explica que as pequenas propriedades rurais proporcionaram diversificação da produção e da economia e tornaram o município uma referência na produção de leite, suínos e aves. Já o diretor de Finanças de Entre Rios do Oeste, Valternei Walker, destaca que a cidade conseguiu gerar crescimento inclusivo porque investiu em saúde e educação. No ano passado, por exemplo, foram investidos 37% da arrecadação em educação e 25% em saúde.
Pobreza cai, mas desigualdade permanece
Apenas em dez municípios paranaenses os moradores têm renda superior à média do estado. O levantamento da Gazeta do Povo, baseado no Censo 2010, mostra que, embora a renda média no Paraná seja de R$ 876, a desigualdade persiste. “Não dá para considerar que o Paraná é igualitário e que todas as regiões são semelhantes”, diz a assistente social e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Jucimeri Isolda Silveira.
Curitiba – onde os moradores têm ganhos médios de R$ 1,5 mil – lidera a lista, seguida de Maringá e Londrina, das cidades com rendas mais altas. Elas são a exceção no estado e puxam a renda média paranaense para cima. Na outra ponta da lista há municípios como Laranjal e Doutor Ulysses, onde a renda média da população não passa de R$ 325.
Não por acaso as duas cidades estão localizadas nas regiões mais miseráveis do estado, respectivamente Centro-Sul e Vale da Ribeira. Além de reunir a pobreza, elas concentram a falta de arranjos produtivos locais e infraestrutura básica, como acesso à luz elétrica e ao esgotamento sanitário.
O economista e doutor pela Universidade de Londres, Fabio Doria Scatolin, explica que a alta renda de municípios como Curitiba acaba criando um cenário fictício no estado. As regiões mais desenvolvidas criaram um tipo de “economia de aglomeração” dinâmica, atraindo, por exemplo, um moderno setor de serviços e indústria, que gera mais prosperidade e ciclos de crescimento.
Para Jucimeri há razões históricas para a desigualdade do estado. “A pobreza no Paraná pode ser explicada pelo latifúndio, baixa atividade de instituições e baixa oferta e qualidade de serviços públicos.” As regiões privilegiadas do estado em relação a investimentos são polos de fluxo migratório e atraem migrantes. Por outro lado, explica a assistente social, “as cidades de ‘saída’ dos fluxos migratórios acabam ficando à margem e geram ciclos de pobreza, que se repetem em função da falta de políticas de qualidade, como educação e saúde.”
Segundo especialistas, a alternativa é identificar a vocação dos municípios. Se o investimento for feito de forma regionalizada é possível que os grandes polos continuem crescendo sem desprezar as demais cidades. Apesar das potencialidades, porém, o economista Fabio Doria Scatolin é cético. Ele diz acreditar que é difícil mudar a lógica do desenvolvimento justamente porque a aglomeração dos polos oferece facilidades, como mais oferta de mão de obra, barateamento de serviços e logística. Por isso é tão difícil que uma grande empresa se instale no Vale da Ribeira. Segundo o economista, a tendência de migração para os locais mais desenvolvidos ainda deve continuar.
Problema é crônico no Vale do Ribeira
A pobreza crônica no Vale da Ribeira faz com que cidades da região, como Doutor Ulysses, tenham 22,5% da população vivendo na miséria e 10% sem renda alguma. Em Tunas do Paraná, outro município da região, Romildo dos Santos trabalha com extração de pínus e sustenta a mulher e três filhos com um salário mínimo. Nas horas vagas faz “bicos” para tentar complementar o salário. José Porfilho, 35 anos, trabalha como mecânico e faz parte das estatísticas que apontam Cerro Azul, também no Vale do Ribeira, como um dos municípios mais pobres do estado, com 15% da população vivendo em pobreza absoluta. Ele, a mulher Marilene e os filhos José, 10 anos, Jéssica, 8 anos, e Jaqueline, 6 anos, vivem com menos de um salário mínimo por mês. Para complementar a escassa renda do mecânico, a família trabalha com agricultura de subsistência e vende uma pequena parte da produção.
Fonte - Marco André Lima/ Gazeta do Povo
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