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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

“O mar é muito amplo e complexo. O PR não pode abrir mão dele”

Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Hugo Harada/ Gazeta do Povo /
Donizete Antonio Giusti, diretor do Setor de Ciências da Terra da UFPR
Publicado em 26/02/2012 | VINICIUS BOREKI

Uma guerra entre parlamentares deve ser deflagrada entre as bancadas estaduais da Câmara Federal nos próximos meses. A razão da disputa: uma proposta para rever a divisão do mar territorial brasileiro, que mudaria a participação do Paraná na partilha dos royalties do petróleo e beneficiaria o estado com o dinheiro do pré-sal.

Dinheiro público
Gasto federal com festas cresceu 314% em 5 anos
Agência Globo
Nem a queda de sete ministros por suspeitas de corrupção, muito menos os cortes orçamentários e a estagnação de programas carros-chefes do governo como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida atrapalharam o governo federal de bancar festividades oficiais e homenagens ao longo de 2011, quando os gastos em comemorações atingiram R$ 54,2 milhões, 19,5% a mais do que no ano anterior (R$ 45,4 milhões). Se for levado em conta os dispêndios para esse tipo de evento nos últimos cinco anos, o crescimento foi de 314%.
Segundo dados do Sistema Inte­­grado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), divulgados pela ONG Contas Abertas, em 2007, primeiro ano do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tais despesas somaram pouco mais de R$ 17 milhões. No ano seguinte, tiveram um acréscimo de 40% e saltaram para R$ 24 milhões. Já em 2009 o aumento foi de 30%, ultrapassando os R$ 31 milhões. Em 2010, ano da eleição presidencial, o governo desembolsou R$ 45,5 milhões, o que representou um aumento de quase 45% em relação ao ano anterior.
O Ministério da Cultura foi o prin­­cipal responsável pelo aumento em 2011 ao elevar suas despesas com festas em mais de 108% em relação a 2010 (de R$ 5,2 milhões para R$ 11,3 milhões). Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da pasta pediu prazo para justificar os gastos.
Mas o “grande festeiro” no go­­verno Dilma, em termos absolutos, é o Ministério da Educação, que no ano passado, ainda sob o comando de Fernando Haddad, elevou em 70% seus gastos, totalizando R$ 15,4 milhões. Em 2010, a pasta já tinha ficado com o título de campeã de gastos, com despesas que chegaram a quase R$ 11 milhões. Em 2011, a maior parte dos recursos, R$ 2,9 milhões, foi utilizada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, e todo o montante foi pago à em­­presa Front Propaganda Ltda, cuja sede é em Brasília. As universidades federais do Ceará e do Rio de Janeiro aparecem em segundo e terceiro lugar, respectivamente, com gastos que somaram R$ 2,3 milhões e R$ 1 milhão só com festividades.
O Ministério da Defesa também se destaca entre os maiores gastadores, com aumento de 67% nas despesas que em 2011 chegaram a R$ 14,5 milhões, enquanto que em 2010 a soma foi R$ 10,8 milhões.


Em outubro do ano passado, o projeto do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) foi aprovado no Senado. Mas houve veto à parte do texto que tratava da delimitação do mar territorial. A discussão, agora, será retomada na Câmara.
Diretor do Setor de Ciências da Terra da UFPR, Donizete Antonio Giusti defende a divisão mais justa do mar brasileiro. Rio de Janeiro e Espírito Santo são beneficiados pelas regras atuais, enquanto Paraná e Piauí são os mais prejudicados. “Nós assumimos a responsabilidade de fazer a defesa técnica da proposta”, diz Giusti, que integra o movimento Pró-Paraná, capitaneado pela Associação Comercial do Paraná (ACP).
Qual a importância de se discutir um novo marco regulatório do mar territorial?
É benéfico especialmente em razão dos royalties do pré-sal. Se considerarmos a demarcação atual, Guaraqueçaba, Antonina, Morre­­tes, Matinhos e Guaratuba [municípios do litoral paranaense] não vão receber nada relacionado ao petróleo. Ao passo que, se tivermos um posto em cada faixa, os recursos serão encaminhados a cada município. Em municípios pobres – como Matinhos e Guaratuba –, os royalties têm uma importância social muito grande. Esse aporte mexe com a cidade, trazendo benefícios à população. Não somos contra o recebimento dos royalties pelo Rio de Janeiro e Espírito Santo. Mas queremos que a lei seja mais justa.
Que argumento está sendo usado para essa mudança?
Na divisão geodésica [estudo da medição e representação da superfície terrestre] dos mares, todas as demarcações se baseiam em paralelos e meridianos. No Brasil, por erros antigos, a costa se baseia na extensão do litoral, do Amapá ao Rio Grande do Sul. No Paraná, essa divisão forma um triângulo, pois o litoral do estado é côncavo [“cavado” para dentro]. Dessa forma, os poços com potencial da camada do pré-sal ficariam fora do mar territorial do estado. Nós, da UFPR, assumimos a responsabilidade de elaborar a defesa técnica. Queremos que a legislação internacional sobre mar territorial seja seguida [nesse caso, o Paraná sairia beneficiado – veja gráfico].
Os políticos estão participando da discussão?
Os políticos paranaenses precisam se unir nessa briga, independentemente do partido. É uma questão paranista e não partidária. Os políticos têm que brigar por isso na hora da votação na Câmara ou no Senado. Certamente, haverá apoio de São Paulo, que vai se be­­ne­­ficiar também. É hora de mostrar a cara e argumentar em favor disso. O movimento Pró-Paraná é puxado pela Associação Comercial do Paraná, mas há participação da Fiep, Mineropar, UFPR, OAB e outros órgãos relacionados à construção do novo marco regulatório. Temos contato com o secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, que está apoiando e envolvendo os outros políticos.
Um possível aumento da participação dos royalties cobriria os riscos de possíveis acidentes?
A discussão também passa por essa questão. Nós [do Paraná] não temos nada, não ganhamos royalties nenhum, mas podemos receber o passivo ambiental de um problema que aconteça em outros lugares. O petróleo é a chave da discussão. Mas também envolve a pesca e as jazidas de areia. O mar é muito amplo e complexo. E o Paraná não pode abrir mão dele.

Fonte- Gazeta do Povo

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