Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Suspeita é de que o esquema serviria para garantir apoio e dinheiro para a campanha eleitoral do primo do ex-chefe da Appa demitido na semana passada. PF cumpriu ontem mandado de busca e apreensão
O Ministério Público Estadual (MP) abriu investigação criminal para apurar a denúncia de “venda” de cargos comissionados no Porto de Paranaguá em troca de apoio partidário nas eleições deste ano e a suspeita de arrecadação ilegal de recursos para financiamento de campanhas na cidade do Litoral. A pedido do MP e com autorização da Justiça, a Polícia Federal cumpriu ontem mandado de busca e apreensão no porto. Dezenas de documentos, computadores e imagens internas do circuito de segurança da sede da administração portuária foram recolhidos pelos policiais.
Outro lado
Pré-candidato do PSDB em Paranaguá nega as acusações
O advogado Alceu Maron Filho, pré-candidato do PSDB ao cargo de prefeito de Paranaguá, disse desconhecer as denúncias do uso de cargos comissionados no porto em benefício de sua candidatura. Alceuzinho, como é conhecido, afirmou que ficou sabendo das denúncias através da Gazeta do Povo.
Vaga custou R$ 22 mil, afirma o denunciante
A denúncia apresentada ao Ministério Público Estadual (MP) aponta que o PSL (Partido Social Liberal), em troca do apoio ao PSDB na eleição deste ano, “ganhou” o direito de indicar nomes para cargos comissionados no Porto de Paranaguá. E que “vendeu” ao menos uma dessas vagas.
Suspeita
Dados podem ter sido apagados
Além de coletar informações para embasar a investigação, o mandado de busca e apreensão que a Polícia Federal cumpriu na tarde de ontem na sede do Porto de Paranaguá teve por objetivo evitar que eventuais provas venham a desaparecer. A Gazeta do Povo apurou que o Ministério Público Estadual (MP) recebeu a denúncia de que dados do sistema de informática da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) teriam sido apagados nos últimos dias.
A busca e apreensão, cuja ordem foi emitida pela 1ª Vara Criminal de Paranaguá, foi acompanhada pelo novo superintendente do porto, Luiz Dividino, que assumiu o cargo na última segunda-feira. Durante quase três horas, policiais federais percorreram vários departamentos da Appa lacrando computadores e recolhendo documentos.
Dividino não quis falar com a reportagem. O delegado federal Renato Lima, que coordenou a operação, disse que a presença da PF foi solicitada pelo MP e que só o Ministério Público poderia comentar o caso. Na Promotoria do Patrimônio Público do MP, o caso está sendo tratado sob sigilo de justiça. O órgão informou apenas que os itens apreendidos serão enviados para a perícia.
O mandado de busca e apreensão foi cumprido exatamente uma semana após a demissão do engenheiro Airton Maron do cargo de superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa). Segundo a versão oficial do governo do Paraná, Maron foi substituído por Luiz Dividino por razões técnicas, para acelerar os investimentos no porto.
Porém, Airton Maron é um dos investigados pelo MP porque o caso ocorreu sob sua administração. E o suposto esquema teria sido montando com o objetivo de beneficiar a campanha eleitoral de seu primo, Alceu Maron Filho, presidente do PSDB de Paranaguá e pré-candidato à prefeitura da cidade. Também são investigados dirigentes de outros partidos na cidade, funcionários da Appa e empresas que operam no porto.
A proximidade entre o Airton e Alceu Maron e a iminência de o caso vir a público teria sido o real motivo da demissão do ex-superintendente da Appa. Alceu foi um dos coordenadores, no Litoral do estado, da campanha vitoriosa de Beto Richa (PSDB) ao governo, em 2010. Ele teria sido o responsável pela indicação do primo Airton para a chefia do porto, segundo declarações do deputado Rubens Bueno, presidente no Paraná do PPS, partido anterior de Alceu.
Rumores
Os rumores de atuação do grupo para arrecadação de recursos financeiros para a campanha eleitoral tiveram início 15 dias antes da queda de Airton Maron.
O gerente de uma multinacional agrícola foi demitido após uma auditoria interna que teria apontado o pagamento de propina para facilitar as operações da empresa no porto. Além da demissão, diretores da multinacional teriam feito chegar ao governo do estado a denúncia contra Airton.
Além disso, dois dias antes do anúncio da saída do ex-superintendente, um comerciante da cidade procurou o Ministério Público Federal (MPF) em Paranaguá com gravações e documentos denunciando a cobrança de um suposto “pedágio partidário” para indicação de pessoas para cargos comissionados na Appa. O MPF encaminhou o denunciante ao MP Estadual, que abriu na última quarta-feira uma investigação. Os promotores receberam, do autor da denúncia, gravações e comprovantes de depósito bancários que comprovariam o esquema.
Lista de comissionados
A Promotoria do Patrimônio Público do MP também apura a denúncia de que os ocupantes de cargos comissionaados no porto pagariam um “dízimo partidário”, com repasse de parte dos salários recebidos a um fundo financeiro para utilização na campanha eleitoral.
Uma lista com o nome de 54 pessoas indicadas para ocupar cargos em comissão na Appa, durante a gestão do ex-superintendente Airton Maron, está anexada à investigação do MP. Há denúncias de que algumas delas – entre parentes de dirigentes políticos da cidade e do estado – teriam ocupado os cargos em troca de apoio político ao grupo do advogado Alceu Maron Filho, ou contribuindo financeiramente para o fundo eleitoral. Outras, segundo a denúncia, não cumprem expediente rotineiramente.
Fonte - Gazeta do Povo
Fonte - Gazeta do Povo
ADMINISTRAÇÃO PORTUÁRIA
Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Pré-candidato do PSDB em Paranaguá nega as acusações
Alceu Maron Filho afirma que não negociou cargos na Appa em troca de apoio político, diz desconhecer as denúncias e garante que não indicou o ex-superintendente do porto
O advogado Alceu Maron Filho, pré-candidato do PSDB ao cargo de prefeito de Paranaguá, disse desconhecer as denúncias do uso de cargos comissionados no porto em benefício de sua candidatura. Alceuzinho, como é conhecido, afirmou que ficou sabendo das denúncias através da Gazeta do Povo. “Como pré-candidato, tenho conversado com dirigentes partidários das mais variadas matizes e jamais coloquei cargos do porto como moeda de troca para apoio à minha candidatura”, afirmou. O pré-candidato disse acreditar que as denúncias tenham motivação eleitoral.
O tucano afirmou que o presidente do PSL, Ênio Campos Silva, deverá provar judicialmente a afirmação de que teria recebido proposta de troca de uma possível coligação por cargos comissionados no porto. Alceuzinho disse ainda que desconhecia que tivesse apoio do PSL.
O pré-candidato assegurou também que não foi responsável pela indicação do primo de Airton Maron para a chefia do porto. Negou que soubesse de denúncias de arrecadação financeira entre empresas e funcionários comissionados da administração portuária para benefício de sua campanha.
A Gazeta do Povo tentou ainda, durante três dias, ouvir o ex-superintendente do porto Airton Maron sobre as denúncias. Ele não foi localizado no porto, onde é funcionário de carreira.
Na tarde de quinta-feira, a assessoria de imprensa da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) informou que não havia sido notificada sobre as denúncias investigadas pelo MP e que, portanto, não poderia se manifestar. Ontem, após o cumprimento do mandado de busca e apreensão na Appa, não foi possível localizar os funcionários da assessoria.
A reportagem também questionou o atual superintendente do porto, Luiz Dividino, e o secretário de Infraestrutura e Logística, Pepe Richa. Ambos foram informados sobre a instauração do procedimento investigativo criminal do MP.
O secretário disse que estava “contente pela denúncia estar sendo apurada pelo Ministério Público”. “O governo não tem nada a esconder. Se houver provas de irregularidades, haverá punição”, disse Pepe.
Dividino chegou a marcar uma entrevista para tratar do assunto. Mas, depois, a assessoria da Appa informou à reportagem que a entrevista havia sido cancelada.
O gerente demitido da empresa multinacional do setor agrícola, que preferiu não ser identificado, também foi procurado. Por telefone, ele informou que sua demissão ocorreu por reestruturação da empresa e que as denúncias não têm fundamento.
TROCA DE “FAVORES”
Vaga custou R$ 22 mil, afirma o denunciante
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Negociação eleitoral
Tucano ofertou cargos em troca de apoio, diz dirigente do PSL
O presidente do diretório municipal do PSL em Paranaguá, Ênio Campos Silva, confirmou à Gazeta do Povo que recebeu do pré-candidato do PSDB à prefeitura de Paranaguá, Alceu Maron Filho, a oferta de dois cargos no porto em troca de uma coligação de seu partido para a eleição de outubro. Apesar disso, ele disse que não cobrou “pedágio” para fazer as indicações.
Silva inicialmente negou que teria direito à indicação dos cargos e falou que não mantinha nenhuma relação com Maron. Ao ser confrontado com sua fala na gravação entregue pelo denunciante ao MP, acabou admitindo que os cargos comissionados foram oferecidos como moeda de troca para o apoio do partido à candidatura do tucano. Ele, no entanto, disse que não vendeu os cargos para o denunciante. “Ele era meu amigo e emprestou o dinheiro.”
Silva disse ainda que pretendia pedir a indicação do denunciante a um cargo no porto. “Eu ia falar isso para o Alceuzinho: ‘Cara, você consegue me dar um cargo para este rapaz por causa (sic) que tenho uma dívida particular com ele’. Eu ia fazer isso baseado na proposta que o Alceu me fez”, disse o dirigente partidário. De acordo com ele, a indicação do denunciante ocorreria para que ele não o perturbasse mais com a cobrança da dívida contraída com o empréstimo.
Silva explicou que os dois cargos no porto foram oferecidos por Maron em troca da coligação com o PSL e afirmou considerar “normal” esse tipo de negociação.
A denúncia apresentada ao Ministério Público Estadual (MP) aponta que o PSL (Partido Social Liberal), em troca do apoio ao PSDB na eleição deste ano, “ganhou” o direito de indicar nomes para cargos comissionados no Porto de Paranaguá. E que “vendeu” ao menos uma dessas vagas. O denunciante – um comerciante da cidade – alega que pagou pelo cargo R$ 22 mil, em três parcelas, ao presidente do diretório municipal do PSL em Paranaguá, Ênio Campos Silva. Ele diz que o dinheiro foi depositado na conta bancária de Silva. Gravações da negociação e cópias dos comprovantes de depósito bancários, aos quais a Gazeta do Povo teve acesso, estão em poder do MP.
A Gazeta do Povo ouviu o autor da denúncia, que pediu para não ter seu nome revelado. Ele relata que foi procurado pelo presidente do PSL em junho do ano passado, com uma proposta para ocupar um cargo comissionado na Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa).
Para a suposta indicação ao cargo, ele teria que depositar inicialmente o valor de R$ 8 mil, que seria repassado ao PSL, segundo as gravações. Segundo os comprovantes bancários, o valor solicitado foi depositado na conta que o presidente da legenda mantém na agência da Caixa Econômica Federal (CEF) no centro de Paranaguá. Silva teria solicitado mais dois depósitos, um de R$ 2 mil em setembro de 2011 e outro de R$ 12 mil em janeiro deste ano, para providenciar o requerimento com a indicação.
No início de fevereiro, após ter pago os valores e desconfiado de que não seria nomeado, o denunciante passou a procurar Silva para saber o que havia ocorrido. O presidente do PSL teria dito então que os cargos estavam à disposição do advogado Alceu Maron Filho. De acordo com o denunciante, Silva chegou a convidá-lo para participar de uma reunião com o pré-candidato para tratar da nomeação.
O autor das denúncias não aceitou o convite e solicitou a devolução do dinheiro. “Peguei até dinheiro emprestado de minha esposa para isso. Era meu sonho”, disse ele entre lágrimas, justificando o pagamento do “pedágio”. Sem receber o dinheiro de volta, o denunciante resolveu denunciar o caso.
Fonte - Gazeta do Povo
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